José Mourinho não tinha boa relação com os dirigentes do Real Madrid, em especial com
Jorge Valdano. Os enfrentamentos começaram na pré-temporada, quando o treinador solicitou a contratação de um terceiro atacante.
No dia 8 de agosto, disse: “Não podemos ficar 10 meses com dois atacantes”. No dia 24 do mesmo mês, foi além: “Se Higuaín ou Benzema se lesionarem, teremos problemas”. Dito e feito. ‘Pipa’ se machucou e desfalcou o time.
No dia 19 de dezembro, após uma péssima arbitragem na partida Real Madrid-Sevilla, Mourinho compareceu à coletiva de imprensa com uma lista apontando os erros cometidos pelo árbitro Clos Gómez na ocasião. O clube, porém, não o apoiou.
O português ainda se queixou por não ter o respaldo do clube: “Há um clube, com uma estrutura, e quero que defendam a minha equipe. O que passou não merece comentário. Se ninguém quiser defender a equipe e ficar atrás de um treinador que sempre dá a cara, perfeito. Vou pedir uma reunião com o presidente”.
No mesmo dia, desmentiu um assunto relacionado a Pepe que estava rodando na imprensa: “É mentira que Pepe tenha pedido 6 milhões para renovar”. Dois dias depois, insistiu no assunto: “O Real Madrid não pode perder Pepe e Pepe não pode perder o Real Madrid”, afirmou com autoridade.
Um grande descontentamento, então, veio do caso Higuaín. Ao saber que o argentino sofria uma hérnia de disco, o treinador foi o primeiro a dizer em público que havia perdido o argentino para o resto da temporada, pois o mesmo precisaria de operação. O Real Madrid, por sua vez, buscou um tratamento conservador, procurou várias opiniões médicas para no fim, após perder várias semanas, chegar a conclusão que o jogador precisaria sim passar por cirurgia.
Mourinho, claro, não perdeu tempo e criticou: “Algum iluminado falou da possibilidade de recuperação sem cirurgia... agora os iluminados mudaram de opinião”.
Outras divergências foram acontecendo, sendo o tema principal a falta de uma atacante, já que Benzema não rendia o esperado e Morata não tinha a confiança do treinador. Surgiram, então, nomes, como Llorente. O espanhol poderia ser uma grande contratação, mas o Real Madrid não quis levar adiante para não estremecer as relações com o Bilbao.
O maior descontentamento, porém, veio após o empate na partida Almería-Real Madrid, quando Mourinho deixou Benzema no banco e o time perdeu mais de 60 minutos sem atacante. O técnico, ainda se queixando do clube não contratar um ‘9’, soube apenas pela imprensa de um “recado” de Valdano, dizendo assim: “Mourinho tinha um ‘9’ no banco de reservas”.
Na mesma semana, ‘Mou’ o respondeu, criticando o fato de receber este tipo de recado pela imprensa, deixando claro que, apesar de ser o Bola de Ouro 2010, não estava contente com os bastidores do Real Madrid, acreditando que cada um dentro do clube estava remando para um lado diferente e com uma postura “em cima do muro”.
Na última semana de janeiro, houve a ruptura definitiva entre Mourinho e Valdano. Primeiro, ao ser questionado se falava sobre reforços com Valdano, foi direto na resposta: “Eu falo com Florentino Pérez e com José Ángel Sánchez (diretor geral executivo)”.
Por fim, antes da semifinal da Copa del Rey, ‘Mou’ proibiu a entrada de Valdano nos vestiários antes e depois dos jogos e, inclusive, dos treinamentos em Valdebebas.
Depois disso, não houve mais contato entre os dois. Recentemente, Mourinho parou de conceder entrevistas coletivas e permitiu que seu assistente, Aitor Karanka, fosse o seu porta-voz. Até mesmo o assistente falou sobre o tema “Mourinho-Valdano”, acabando com qualquer possibilidade de acerto entre o treinador e o diretor. Em poucas palavras, mas com bastante significado, Karanka disse o seguinte: “Valdano é porta-voz do clube, não do treinador”.
Tal resposta veio devido a uma resposta do diretor-geral, dizendo que Mourinho “havia tirado o foco de si para baixar a poeira”. Não deu certo.
No dia 25 de maio de 2011, finalmente,
Florentino Pérez anunciou a saída de Jorge Valdano do clube. Segundo o Real Madrid, de forma amigável entre o presidente e o agora ex-diretor.
O fim de um cargo sem utilidade.
Sabia-se que dentro da cúpula, a “hierarquia” nada mais era do que uma política disfarçada para não permitir o contato direto entre treinador e presidente. Outros treinadores ao longo dos anos tiveram esta barreira. O último foi Pellegrini. Valdano era a pedra no sapato. Uma pedra
mal colocada por Florentino Pérez.
Uma guerra entre Mourinho e Valdano, a princípio, poderia não acabar bem para o português, uma vez que o dirigente sempre teve o apoio do presidente. No entanto, Mourinho surgiu e mudou os parâmetros, conquistando a torcida e os jogadores, vencendo uma guerra pessoal que durou uma temporada e obrigando o presidente a tomar medidas a seu favor para melhorar a sintonia entre todos dentro do clube.