As pessoas que estavam presentes no Bernabéu sentiram a tensão proveniente de Florentino Pérez, enquanto o Milan voltou ao jogo do dia 21 de outubro de 2009 na frente do placar (
2-3). Os convidados de honra não pararam de pensar sobre os 250 milhões de euros gastos pelo presidente no verão passado. À esquerda de Florentino, sentou Adriano Galliani, diretor-geral do Milan, o homem que lhe vendeu Kaká por 65 milhões de euros. À direita, sentado, Michel Platini, o presidente da UEFA, que o acusou de ''indecência'' a respeito dos preços tão elevados das contratações de Cristiano Ronaldo e Kaká. E, no campo, estava Kaká, jogando um futebol medíocre, ferindo o orgulho de seu presidente.
Raúl comemora um de seus gols com os seus companheiros.
O que envergonhou Florentino Pérez, no entanto, não foi o fracasso de Kaká. Nem os gols de Pato. O que inflamou o presidente foi um dos gols do Real Madrid. Foi ver Raúl correr para cobrar um escanteio, pois, naquele momento, nenhum de seus companheiros teve ganas de fazê-lo. Enquanto todos estavam parados, atrás do placar, Raúl foi cobrar o escanteio, deixando a torcida merengue embaraçada. O capitão serviu com astúcia a Drenthe, a quem os agentes de Ramón Calderón - os mesmos que o contrataram - o chamavam de ''Accidrenthe'', que recebeu a bola de Raúl e marcou o gol de fora da área.
Dez partidas depois do início da temporada, as contratações da equipe, uma das maiores da história do futebol, contrastou uma realidade difícil de entender. Kaká jogou cada dia pior e seus companheiros foram pelo mesmo caminho. Ramos, Xabi e principalmente Benzema, entre outros, jogadores chamados para terem um papel fundamental na equipe, renderam muito abaixo do esperado, de seu nível. Os jogadores não reconheceram o esquema em que jogavam. Se mostraram incômodos. Dispersos. Apenas Raúl se orientou na desordem.
Raúl é um jogador lendário. Mas, com 32 anos, segue sendo realidade. Antes de começar a temporada, a maioria pensava que o capitão não entraria na equipe titular e que Benzema ocuparia o seu lugar. Não foi assim. Quem jogou e deu a cara a tapa foi Raúl e não Benzema. Há dirigentes no Madrid que observaram a derrota para o Milan como um fracasso em que Pellegrini não teve uma responsabilidade direta. Mas acreditam que o mal funcionamento da equipe foi resultado de uma política de rotações equivocada, que já acabou, atualmente (e felizmente). O chileno tratou todos por igual, mas havia jogadores que necessitavam de um tratamento especial para se adaptar. A consequência se viu contra o Milan: Os novos se perderam e Raúl seguiu como o de sempre.
Kaká jogou em três posições diferentes no Madrid, foi extremo, veio mais de trás e algumas vezes mais ofensivo. Benzema jogou umas de ponta, outras de segundo ponta. Guti como volante, outras vezes como ponta no meio. Granero, por exemplo, deveria conectar todos. Mas era difícil conectar quando a cada dia as peças estavam em lugares diferentes. A formação da equipe mudou de 4-4-2 ao 4-2-4 e ao 4-3-3. Aí, enfim, veio o fim das rotações.
Hoje, porém, as coisas estão diferentes. Se passaram muitas semanas, atacaram Raúl, desprezaram o capitão, não o tocaram a bola. O deixaram no banco. E segue no banco, treinando duro como sempre. Kaká melhorou, mas não ao ponto que jogava na Itália. Guti foi afastado. Granero não teve mais oportunidades. Benzema continua apagado, sonhando. Higuaín, ao contrário, segue marcando gols, segue somando. Cristiano Ronaldo voltou, junto das esperanças do Real Madrid, que briga por títulos. Alguém sempre é apontado, para o bem ou para o mal. Para jogar no Real Madrid, porém, você precisa vestir a camisa blanca e ser o melhor. Você precisa estar num conjunto e comemorar cada lance, cada jogada, cada gol, como se fosse uma final, seja em campo, seja no banco, seja na torcida. Raúl é o maior exemplo disto. E quem segue os caminhos do capitão, segue o caminho para o sucesso e identificação que um time precisa ter para obter um conjunto vencedor.
Florentino Pérez parece manter a moral. O presidente é otimista por natureza. Aos seus amigos, diz: "Com Zidane demoramos três meses para arrancar". 2009 já acabou. 2010 está para chegar e dois grandes torneios estão sendo disputados. A La Liga e a Champions (cuja final será no Bernabéu). O Real Madrid levou porrada, tropeçou, saiu precocemente da Copa do Rei, mas está de pé, mais forte, querendo conquistar a Espanha e a Europa mais uma vez. Como um time, unido e vencedor. E, ao que parece, 2010 será um ano de glórias para os madridistas. Com o Real Madrid até o último instante.